#21 - Pequena grande lista de coisas que gostei
o que vi, ouvi, comi, assisti e vivi nos últimos dias
Essa deveria ser uma newsletter falando sobre a franquia Missão Impossível, mas vai ser apenas uma newsletter falando sobre coisas que gostei.
Estou há tempos ensaiando escrever um texto ranqueando todos os Missão Impossível. Eu me auto infringi essa missão de ver todos os filmes em que o Tom Cruise interpretou o Ethan Hunt e eu achei que era importante dividir minhas impressões com vocês por ordem de preferência, caso um dia vocês quisessem também entrar nessa batalha ou evitá-la a qualquer custo.
Acontece que escrever sobre isso toma tempo e, se teve uma coisa que eu não tive nas últimas semanas, foi tempo. Empurrando esse newsletter muito específica sempre para a semana subsequente, eu acabei por não escrever coisa alguma. Esse tipo de comportamento é muito comum em mim: focar em uma coisa em específico e, na impossibilidade de fazer essa coisa específica do exato modo que tinha pensado, optar por não fazer nada. Fico muda. Imóvel. Um peso de porta que espera o momento certeiro em que será possível desempenhar a tarefa que eu gostaria de desempenhar do jeitinho que eu queria que fosse. Mas pesos de porta não escrevem coisa alguma e é assim que eu atraso muitas coisas na minha vida. Vejam que até mesmo essa justificativa é algo que você já leu antes. Sim, eu já tratei na terapia. É um tema constante porque eu também quero resolver isso de uma maneira muito específica e acabo me tornando um peso de porta. Enfim, um eterno retorno.
É importante que você perceba que quando não pode fazer o que planejou exatamente do jeito que tinha pensado, que você faça o que você pode fazer. O que eu posso é dividir com vocês as coisas que gostei nos últimos tempos. Talvez esse seja um tema recorrente das newsletters também.
A Consulta
Tenho passado por aquilo que chamam de “ressaca literária” e muito pouca coisa tem me prendido mesmo a atenção. Um dia, no avião, tendo esquecido de baixar qualquer novela no meu celular, recorri a um livro que tinha no kindle chamado “A Consulta". Escrito por uma alemã chamada Katharina Volckmer, a história inteira se passa durante uma consulta. O livro é um monólogo da personagem principal durante essa consulta, então nós vamos descobrindo quem é ela e do que se trata a consulta conforme vamos lendo o livro. Achei genial, muito divertido e muito bonito também. Um livro sobre traumas, descobertas, ancestralidade e muito mais. O humor talvez não seja pra todo mundo, mas também não acho que você vai se sentir muito ofendido se tentar. Li em um dia, fazia muito tempo que isso não me acontecia. A mesma autora tem um livro chamado “A Ligação” que também é muito bom, mas achei menos bom que esse.
The Pitt
Gosto de séries médicas na mesma medida que sinto pavor, já que meu TOC é muito focado em doenças. The Pitt é uma série médica que foge um pouco da lógica tradicional porque a temporada completa se passa durante um único plantão de 15 horas. Cada episódio mostra uma hora completa do trabalho daquele dia e é muito interessante porque os personagens se dividem entre médicos experientes e residentes pegando o seu primeiro plantão. Claro que toda série médica esbarra naquela coisa de “meu deus como é lindo a medicina eles salvam vidas” e é incrível que não tenha quase nenhum filha da puta de marca maior ali dentro, mas os personagens são complexos e cativantes e o médico chefe do plantão é um gato. Queria um pouco que ele existisse e fosse meu médico.
Never Enough
Turnstile é uma banda de hardcore que eu conheci durante a pandemia. Nessa época eu precisava de rotinas pra sobreviver e uma das rotinas que eu adquiri era ouvir toda segunda-feira a playlist Pitchfork Selects, da Pitchfork. Acho que já falei dessa playlist aqui, inclusive. Um dos singles do Turnstile apareceu por lá e eu fiquei meio obcecada pela banda. Ouvi tudo que tinha de maneira retroativa e, quando eles finalmente lançaram o Glow On, era como se eles tivessem feito o álbum especialmente pra mim. Gostei pouco de uma banda nova como gostei do Turnstile naquele momento. E os astros se alinharam para que justo no momento em que eu mais amava a banda, eles fizessem um show no Brasil. Eles e a Japanese Breakfest são as obsessões que eu guardei da pandemia.
Curiosamente pude ver as duas bandas em 2022, o que guardo como presente. Esperava ansiosa pelo álbum novo do Turnstile que ia sair esse ano e, embora alguns singles não tivessem me empolgado tanto, gosto bastante do resultado final. Eles não são a mesma banda. Agora flertam com uma certa experimentação, criam um álbum visual e falam sobre fins de ciclo. É como se depois de uma grande festa você tentasse olhar pra dentro e descobrir de fato quem você é, do que você gosta. O que se faz depois do auge? Acho que a gente continua vivendo, continua tentando. Esse é um álbum de uma banda que continua tentando. Me traz certa paz. Acho que estamos em momentos parecidos.
Addison Rae
Me sinto muito jovem por ter gostado tanto dessa cantora que é um fenômeno do tiktok e do nada lançou um álbum que foi muito elogiado pela crítica, mas fato é que a Gen Z sabe muito quando aponta a Addison Rae como o novo grande fenômeno do pop. Não existem grandes reinvenções, ela não faz nada de muitíssimo extraordinário, mas ela canta sobre sapatos, amores e pepsi diet e ainda entende como ninguém o poder de colocar seus fones de ouvido e sair por aí pensando na finitude da existência. Diria que são ótimas músicas para correr e ouvir na academia, mas infelizmente eu fraturei o braço e o pé ao mesmo tempo e não posso desempenhar nenhuma das duas atividades. O álbum está aprovado para caminhadas pela cidade e para receber seu amigo enquanto vocês tomam um dry martini e falam “boa mesmo essa garota, né?”
Cepa
Gosto muito de restaurantes, mas falo pouco deles porque não gosto que as pessoas saibam que sou muito mais criteriosa com comida do que deveria. Em uma das minhas viagens pra São Paulo, visitei o Cepa. É um restaurante ali em pinheiros de cozinha contemporânea que é um dos melhores que visitei em tempos. É barato? Não podemos classificar assim, eu acho. Mas eles servem a melhor lingua de boi que eu já provei (sim) e eu comi uma carne de porco que jamais vou esquecer na vida. Os drinks são ótimos e o sorvete de avelã também. Caso você queira e possa, recomendo a visita.
Boca de Ouro
Meu melhor amigo mora em São Paulo e terminou um tratamento chato que o fez parar de beber por anos. Como transformar o corpo em um templo não estava nos planos dele, desde que ele foi liberado todos os nossos passeios quando vou pra lá envolvem conhecer um bar novo e o da vez foi o Boca de Ouro. Sim, eu sei que um monte de gente já conhece e tal mas EU não conhecia? Respeitem meu momento? Enfim. Foi lá que inventaram o drink macunaíma e é lá que você vai provar drinks feitos com muito cuidado e com preço justo. O bolovo também é uma delícia, embora falte um pouco de sal. Também em pinheiros. Eu sou meio zona oeste das ideia. Ainda no tópico restaurantes em São Paulo, vale conhecer o Komah restaurante e a padaria do Komah. No restaurante inclusive eles servem ótimos drinks. Ah, e o Kotori também é bem legal pra quem gosta de petiscos japoneses. Melhor brócolis com missô que já comi na vida. E os drinks. Também são legais os drinks. Eu sou meio hiperfocada em drinks.
Werner Herzog
Vejam filmes do Werner Herzog enquanto há tempo. O melhor maluco que o cinema alemão já produziu.
Pablo e Luizão
Série deliciosa do Paulo Vieira que conta as histórias malucas em que o pai dele e seu melhor amigo, Luizão, se meteram. O episódio em que eles moram em uma sala comercial é cinema de tão bom. O Paulo Vieira tem uma sensibilidade muito rara na hora de falar de Brasil. É uma delícia de assistir e eu recomendo ver com seus pais, caso você goste desse tipo de programa familiar. Vi com a minha mãe e ela amou.
O Ensaio - Segunda Temporada
Nathan Fielder é um maluco que já fez muita maluquice em termos de TV, mas seu grande projeto recente é a série “O Ensaio” em que ele basicamente cria todos os cenários possíveis para que uma pessoa possa enfrentar uma situação. A primeira temporada escalou para algo muito absurdo (embora esteja completamente dentro dos meus padrões de normalidade) e na segunda ele resolveu hiperfocar em acidentes aéreos. Basicamente ele acredita que os acidentes aéreos acontecem muito pela falta de comunicação entre piloto e copiloto e, a partir daí, ele cria toda uma estratégia pra tentar tornar essa comunicação mais efetiva. Eu me divirto muito porque eu amo o modo como a cabeça do Nathan Fielder funciona. Talvez seja isso que me faça admirar as pessoas. Eu sempre me apego a gente cuja cabeça funciona de um jeito que eu adoro ver. Ele, Werner Herzog e todas as pessoas que eu citei nessa newsletter até agora tem cabeças que funcionam de maneiras fascinantes.
Vale Tudo
Uma coisa muito interessante de trabalhar falando sobre novelas é que quando uma novela não é maravilhosa, as pessoas tomam como ofensa pessoal. Eu amava ver Mania de Você, uma das maiores tranqueiras que o horário das nove já produziu e, não raro, aparecia gente me falando “eu não sei como você consegue ver isso!". Era simples, eu via porque eu amava. Eu queria saber até onde aquilo ia e aquele absurdo sempre ia mais longe. Foi tão longe que foi parar em Moscou, Rússia. Claro que esse horror de novela vinha com a vantagem de mostrar os bíceps do Chay Suede, mas ainda assim. Voltando ao Herzog, ele tem uma frase (que eu já citei aqui) que é meu mantra pessoal em que ele fala que ama Trash TV porque um poeta não pode desviar seus olhos de nada. Parte da mesma lógica do Oswaldo Montenegro dizendo que vê fofocalizando todo dia. É preciso estar dentro do mundo para entendê-lo.
Eu amo ver novela mais ou menos. Vale Tudo é uma novela absolutamente mais ou menos mas eu vejo TODOS os dias. Perdi? Vou pro Globoplay. Fiquei sozinha em casa mês passado e preparei missoshiru e arroz japones pra ter o conforto de comer essa comida enquanto via as trambicagens de Maria de Fátima. É um arremedo do original mas eu amo. Fico triste por todo mundo que passa raiva vendo tranqueira. É preciso abraçar as tranqueiras, dançar com elas, fazer delas sua casa. Uma novela que tem trama de Bebe Reborn. I love trash TV.
Rio de Janeiro
Fui ao Rio de Janeiro e nem o mar gelado e o estabaco que eu tomei de patinete me fizeram amar menos aquela cidade. Eu mal tinha caído no chão e um senhor já tinha levantado meu patinete e perguntado se eu estava bem. Eles tem vários estabelecimentos chamados braseiro no qual o conceito é simplesmente vender carnes diversas assadas e farofa de ovo. Eles tem farofa de ovo e mate na praia. Eles te dão chorinho de mate. Você tá indo ali e PÁ, o Cristo Redentor braços abertos sob a Guanabara. Todos os ubers odeiam seus trabalhos e xingam todos os outros Ubers o caminho todo, mas de um jeito muito mais carismático que em São Paulo. A praia toda gritou durante um gol do flamengo. Pousar no Santos Dumont é uma das coisas mais bonitas da vida. Eu ainda não consigo virar a minha mão, mas eu não passei um dia triste no Rio de Janeiro. São Paulo não tem isso.
Pão com requeijão na entrada
Bom. Nisso aqui São Paulo vence. Bom demais pão com requeijão na entrada. Procurem saber.
Brechós
Fiz as pazes com a minha patricinha interior e aceitei que eu gosto muito de me vestir bem. Eu gosto de gastar com roupa, com sapato, com bolsa. Cher Horowitz e Carrie Bradshaw me criaram, eu cresci na frente de uma TV com GNT Fashion e é isso. Desde que essa certeza se abateu sobre mim que eu lembrei que é muito bom comprar em brechó. Eu era muito adepta na adolescencia/juventude e depois parei um pouco, mas percebo que foi um erro. Visitei a liquidação de fechamento do B.Luxo e achei muita coisa legal, amei ficar garimpando roupinhas e pensando em montar looks. B. Luxo aliás é um brechó e tanto e está reabrindo na Barra Funda. Vale a visita, mas vale também a visita em bazares de igreja, brechó do seu bairro e no armário da sua mãe. É muito legal se vestir com identidade. Você sabia? Chay Suede também frequenta o B. Luxo. Nós seriamos muito amigos, é impressionante.
Barra de proteína
Eu odeio receita maromba porque whey tem um retrogosto horrível de adoçante sim, mas a barrinha de proteína da nutrata de dark caramel tem gosto de Snickers. Que vantagens há? Não sei. É tão ultraprocessado quanto, mas ao menos tem mais proteínas. Sei lá, o autoengano é importante.
Ficar sozinha
Acabei passando alguns bons períodos desse último mês apenas com minha companhia e acho que isso me reestrutura muito. Gosto muito de voltar a estar com as pessoas que amo, mas gosto muito de deitar a noite pra ver um filme sozinha. Ir no cinema ver o filme do Ney Matogrosso sem ninguém me acompanhar. Cozinhar algo que só eu vou comer. Também gosto da vida compartilhada, mas são boas essas pausas. As férias das pessoas. Silêncio e tal.
Afinal, o que é a vida?
Essas coisas que acontecem enquanto eu fico me sabotando pra não escrever. Às vezes eu caio de patinete elétrico, mas às vezes também vejo belezas.
Encontro vocês na semana que vem. Obrigada pelo seu tempo!
Uma delicia essa news, e me interessei muito pelo livro a consulta 💖
primeiro, excelente texto, como sempre; segundo, queria compartilhar q até levei o texto pra minha terapia, falando dessa impossibilidade de abrir mão do q a gnt pensou em fazer na hr. doidera de com a internet funciona, uma pessoa escreve um texto lá na casa dela e faz eu ''endoidar'' aq na minha HUFDSF